#9 Sobre não ser boa o suficiente

Têm uma grande problemática no fim da sétima temporada de Gilmore Girls (desculpa pelo monotema) sobre essa coisa de ser boa o suficiente, que meio que  ficou na cabeça, porque ultimamente eu venho tendo várias crises  sobre isso. Na série, toda a crise começa quando Rory não consegue  a bolsa que era seu sonho há muito tempo - e depois é recusada em dois empregos. Isso acabou acontecendo num momento muito semelhante para mim, então acabou pisando  nos meus calos. Eu acabei de não conseguir um estágio. É inerente você se sentir  mal e começar a ter dúvidas gigantescas sobre o  que você faz: enquanto escrevo esse texto, penso que ninguém vai perder o tempo lendo ele, que está uma droga, que outras pessoas poderiam escrever sobre esse mesmo assunto de forma muito melhor. Muito melhor, ecoa minha mente.

Ser o boa o suficiente para o que você estipulou como meta para você mesma. Metas reais, vejamos bem, que você achou que conseguiria. Quando você não consegue, bem, isso é um tapa na cara para qualquer pessoa - por mais que se finja, por mais que você tente dizer não é nada demais, e eu estou bem, obrigada. Se sentir como se estivesse decepcionando todas as pessoas a sua volta  que alguma vez chegaram a esperar algo de você te magoa extremamente. Além disso, decepcionar a si própria é pior ainda. É humilhante. E então, na maioria das vezes, você faz o que Rory fez: joga a coberta na cara e ignora todo o mundo que existe a sua volta. Porque sentir que não é suficientemente boa é uma das piores sensações do mundo.

Eu estou passando por isso agora e não faço a mínima ideia do que é que eu faço. Acho que é melhor chorar até todas as lágrimas estancarem para daí recomeçar do zero. Mas o problema é que eu não sei se, se eu deixar a primeira lágrima escapar, eu vá conseguir recomeçar do zero. Porque a única coisa que eu consigo me sentir é uma completa decepção. E eu poderia colocar a culpa no maldito sistema capitalista, que prioriza beleza física e produtividade. Mas eu não consigo deixar de pensar que a culpa é minha. A culpa é minha. Eu não sou boa o suficiente.

" Eu não sou boa o suficiente, não sou boa o suficiente", meu inconsciente fica falando e repetindo para mim mesma. Eu não escrevo bem o suficiente, eu não sou inteligente ou esforçada o suficiente para passar na USP, eu não sei lidar bem o suficiente com pessoas para que alguém ouse gostar de mim e a lista continua à exaustão. Exaustão é exatamente a palavra. É fácil falar quando é Rory, porque, aliás, a garota passou na Yale e foi diretora do jornal da universidade. É uma coisa parecida com representatividade: muitas pessoas podem ter conseguido chegar aquilo, chegar a um lugar. Mas você simplesmente sente que é ela. E não você. Porque você não consegue. 

O que é se faz quando você se sente assim?