Os ponteiros seguim lentamente, num ritmo fúnebre, monótono. Mas tangível. Gostava da lentidão dourada que se arrastava para um infinito finito. A colcha de retalhos lhe era aspera a pele. Gostava do estupor pós-dor. Depois da enchurrada, depois que o único resquício das lágrimas era o grude da pele, depois de todo o desespero silencioso no calor sufocante de seu quarto, com as cortinas fechadas em pleno ápice solar, depois de tudo isso, era apenas o estupor que restava.
Por que ela chorava? Por sua sanidade. Percebia agora como sua loucura era sã. Porque sua loucura era a resposta certa ao mundo. Era a sanidade louca precisa para se combater aos fatos. Uma loucura sã. Não sei de nada. Apenas sei da fragilidade do espírito que se torturava. A garota sofria com uma coisa que a muito o mundo já vira: o amor. Ou melhor, a ausência de amor. A busca pelo inexistente sentimento.
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O incessante e agourento grito de guerra
Os corpos, jogados, atulhados, podera...
Podera ao menos distinguir a vida da morte;
O lar da prisão; os aliados dos inimigos;
Ao menos, uma nesga de sorte
Ou, dentre toda a claridade do ataque, os reais perigos;
Pois oh, nessa guerra de morte,
Onde turva a visão pelos gritos a beira do desespero
E dentro os gritos e sussurros, o comando: O posseiro.
Posseiro do quê? Pergunto-me.
E ouço as respostas dos fadados à morte: Trouxera-me.
Não, não pense racionalidades não existentes.
Apenas suplicos indiferentes:
Que, indiretamente, explicam.
Pedindo água, suplicos.
E tudo se resume a : no espírito, abrigos.
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Aproveite meu despudor
E conceite minha dor
Sem o alento inconsequente
As fumaças somem de minha mente;
Encostou-se, ajeitou-se, tragou
Os amores que a mim faltou
E esqueceu seus pudores
Entre as pitadas e as dores.
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