segunda-feira, 4 de maio de 2015

Crítica: Persona, a máscara de Ingmar Bergman

                  Persona


Depois de Morangos Silvestres, melhor falando, um dia depois de Morangos Silvestres, eu assisti outro filme de Ingmar Bergman: Persona. É uma obra minimalista dele, ou seja, apesar de ser um longa-metragem, só tem 5 personagens. Duas protagonistas, as mulheres da imagem ali em cima. Foi o último filme em preto e branco dele. 
 Rapidamente, a história é assim: Alma é uma enfermeira em um hospital, que encontra uma paciente a sua altura: a atriz Elisabeth Vogler, interpretada pela perfeita Liv Ullmann - que, para a fofoca dos de plantão, teria tido casos com Ingmar Bergman. O que acontece com essa paciente? Pois bem, ela se nega a falar. Há três meses não diz uma palavra. Por quê? Depois de interpretar tantas personagens, depois de ser tantas pessoas diferentes, ela perde a si mesma. Se cansa de mentir, de colocar uma máscara. O ser " atriz " dela explicita isso, mas creio que isso é geral. Todos usam máscaras. Não quero dizer que todas as pessoas são falsas, mas elas tem personalidades diferentes dependendo de quem está a sua volta e onde você está. Todos somos Elisabeth Vogler. 
 Vamos abrir um parêntese para fazer uma ficha do livro: é sueco, dirigido e criado por Ingmar Bergman, num período em que ele estava internado. É de 1966. Me recuso a falar se ele é drama, comédia, romance etecetera. Como já disse, não sou adepta dessas categorias. Mas, particularmente, achei ridícula a tradução do nome do filme na " versão " brasileira: Quando Duas Mulheres Pecam. 


 Então, a médica de Elisabeth e superior de Alma, em uma cena épica, manda as duas para uma casa de campo. Terei que copiar as palavras dela, pois foi a cena que mais me afetou: " O inútil sonho de ser. Não parecer, mas ser. Estar em alerta em todos os momentos. A luta: o que você é com os outros e o que você realmente é. Um sentimento de vertigem... e a constante fome de finalmente ser exposta. Cada tom, uma mentira, cada gesto, falso. Cada sorriso, uma careta. " Foi a reação que eu tive quando li um pouco de Proust: achar o que você estava sentindo e não sabia exprimir, na arte, na literatura, no cinema. 
Voltando para a história, com essa cena épica, a médica decide que vai mandar as duas, Alma e Elisabeth, para uma casa de campo perto da praia, já que não tem motivo para Elisabeth ficar no hospital, é mental e fisicamente saudável. Saudável. Lembrei agora do que Alma diz mais tarde para Elisabeth: " Dizem que você é normal. Mas eu sei, sua loucura é pior. " 
 E então, as duas vão para a casa de campo. Elisabeth continua se recusando a falar, o que da abertura a Alma, que fica em um diálogo que Elisabeth corresponde com gestos, sentimentos, palavras não verbais que transpiram por seus poros. E é aí que me apaixonei pela atriz Liv Ullimann, que fez a atriz em silêncio. Ela tem uma frase em todo o filme. E, mesmo assim, ela consegue exprimir os sentimentos como se fosse a própria personagem, mil vezes melhor que muitos atores da globo, que nunca conseguiriam chegar ao ápice das artes cênicas, como Liv chegou. E há, então, a segunda cena que mais me afetou: quando Alma conta a orgia que teve com dois meninos e uma turista que não conhecia, numa praia deserta, e que acabou a engravidando, e ela teve de fazer um aborto. E então, Elisabeth parece transpirar excitação sexual. Achei simplesmente genialidade da Liv ao interpretar isso. Os lábios semiabertos dela, a malicia de seus olhos... eu não sei como aquela mulher conseguiu fazer isso.
" Você diz que é mentalmente saudável, mas sua loucura é pior. "

Uma das coisas que vi em grande diferença com Morangos Silvestre, e que é ocasionado principalmente por uma das personagens não falar, e outra ficar em constante monólogo, são as frases de impacto. Sou apaixonada por frases de impacto, que, em junção com uma poesia de imagem e uma história que te faz ficar de boca aberta, me deixou terrivelmente apaixonada por Persona, de Ingmar Bergman.
Como ia dizendo. Então, acontece que o Sr. Vogler vem e Alma o beija, se passando pela Sra. Vogler. É aí que você tem a junção das duas: você percebe que, durando todo o filme, elas eram uma só. Uma era persona da outra. Elas literalmente trocam de alma, o que é provado quando, por edição a metade dos dois rostos se juntam num só. Aliás, tem uma parte que Alma faz alusão a isso, dizendo que a alma de Elisabeth não caberia no corpo dela, e transbordaria. Cheguei, até mesmo, numa parte do filme, em pensar que Alma tivesse dupla personalidade. Mas não é assim. Você não precisa ter dupla personalidade para ter duas pessoas dentro de si. Personas. O que você é com as pessoas e o que você realmente é. 
 Okay, terminei. É simplesmente impossível, me sinto incapaz, de por em palavras tudo o que senti com esse filme. Maravilhoso, incrível. Esses adjetivos dão a ponta do iceberg. 

Da página Espaço da Sétima Arte. 

Então, assistam e tirem suas próprias conclusões sobre essa obra prima de Ingmar Bergman. Eu assisti aqui.





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