sexta-feira, 1 de maio de 2015

Resenha - Morangos Silvestres

Meu contato com Ingmar Bergman
[Nível de spoiler: 8]
 Ontem à noite assisti um dos diretores que estavam na minha lista - sobre a qual falarei mais adiante. Comecei com uma recomendação de uma linda amiga minha, e assisti Morangos Silvestres. É vero, senti vontade de assistir Bergman depois que descobri que ele adorava meu diretor favorito: Tarkovski, e este o adorava. Então, decidi tentar. Não vou tentar compará-los em história e nível técnico, porque cada diretor é especial em si. 

 Morangos Silvestres começa com um cena de Isaak, o velho professor e médico, falando ao público. Filosofando, como se estivessemos ouvindo seus pensamentos. Ele diz que se isolou do mundo, porque o jeito como as pessoas convivem umas com as outras é simplesmente as criticando. Ele é um velho carrancudo, egoísta, que quer sempre ser melhor, quer sempre saber das coisas. 
   Ele está indo para uma premiação, em Estolcomo - é um filme sueco -, e decide, de uma hora para outra, ir de carro, e não de avião, após um pesadelo que ele tem. A cena do pesadelo em si é bem simbólica. Cada um interpreta do seu jeito. Em seu pesadelo, os relógios não tem ponteiros. Isso parece uma alusão à universidade dos acontecimentos. Como se o tempo em que o pesadelo acontecesse fosse sempre. Sempre, simplesmente. Sem tempo certo. Logo após, ele encontra um homem, que parece estar com os olhos quase costurados, com o rosto desfigurado. Quando ele toca no homem, ele cai no chão e começa a sair uma espécie de sangue dele. Ainda não consegui entender direito o que esse homem seria, mas acho que ele seria uma metáfora sobre a morte. Como se você moresse no exato instante que você se conscientizasse da morte ali, a um palmo de si. Então, uma carruagem vem e derruba um caixão perto dele. Ele toca a mão da pessoa ali, e esta agarra a sua. É quando percebemos que quem está dentro do caixão, desesperado, é ele mesmo. E a câmera fica dando closes dos rostos dos dois. Isso parece o medo da velhice, pois nessa parte, ele parece estar fitando pela primeira vez como seu rosto está, e isso parece desesperar-lhe. Eu assisti o filme no Toca dos Cinéfilos e um cara lá comentou que " só a cena do pesadelo já vale o filme inteiro ". E é a total verdade.

  Mas continuemos. No meio do caminho, ele e sua nora, que está viajando com ele, param numa casa de verão em que ele costumava passar as temperaturas quentes com a família. E é aí que ele começa a lembrar-se de algumas coisas. Sua prima Sara, por quem ele era perdidamente apaixonado, beijando seu primo, o chamado de inútil. Pois bem, teve uma parte que me chamou um pouco a atenção. Os personagens cantam duas vezes no filme: uma na casa de campo, nas memórias dele, em que suas irmãs gêmeas cantam para seu tio surdo, enquanto Sara critica: " Por que eles estão cantando para um surdo? Tinha que ser coisa das gêmeas. "  E outra vez, no fim do filme. Já falarei mais adiante.
  
 Então, aparecem mais três personagens, que estavam pelos arredores da casa de verão: três jovens, a personificação da esperança, da aventura. Uma mulher e dois homens. Esses dois... um é a ciência e um é a religião. Um quer ser médico e um quer ser padre. E o problema é que você acaba confundindo esses dois. Em seus argumentos e em suas certezas, eles parecem igualmente fúteis. Os dois parecem uma coisa só, uma coisa que vive brigando entre si, mas que se gosta e se complementa. Achei isso genial. 

Da página Espaço da Sétima Arte. 
A mulher da imagem é a nora dele. Durante uma parte da viagem, eles tem um diálogo extremamente legal, em que ela conta isso aí, o que aconteceu com ela e o filho de Isaak. Os dois falam da necessidade de morrer, e então, ela conta que queria ter um filho, mas Evald não o queria, dizendo aquilo ali. Então, Evald e ela estão no carro, e ele fala: " É isso o que você precisa. Viver e procriar. " " E você? " " Eu tenho necessidade de morrer ". Essa parte é ... é bem como eles dizem, os dois, tanto Isaak como Evald, estão mortos mesmo estando vivos. E, infelizmente, tem muita gente por aí que é assim. A história de um homem é a história da humanidade.
 Vou terminar agora, com a parte que me criou lágrimas nos olhos, que acabaram por não escorrer, porque me controlei. Ele está no carro, dormindo, quando aparece imagens em sua mente. Ele está sentado perto do canteiro de Morangos Silvestres da casa de verão, e sua prima Sara, nova e bonita, está sentada a frente dele, com um espelho na mão. E ela começa a falar tudo o que ele não quer ouvir. Ergue o espelho e pede para que ele se olhe. Para que ele veja como está velho e acabado. E pergunta o porquê. Sem esperar uma resposta, ela continua, falando que ele não sabe. Queria ser médico para saber de tudo, mas no fim, ele não sabe de nada. Acho que essa parte me tocou porque acabei por reconhecer meus próprios medos, o de envelhecer e o de não saber, no protagonista.
 Aaah, claro. No fim, os três jovens, cantam uma serenata para Isaak, já que estão indo para a Itália, e provavelmente não vão se ver. E então, eu lembro da parte da Sara falando: " Por que eles estão cantando para um velho surdo? Tinha que ser a juventude, a ciência e a religião."  
 E, então, não posso falar tudo o que achei em toda a 1:30 de filme. Tentei, ao menos. Mas ainda deixei muitas outras partes sem falar. Não vou dar uma " nota " para o filme, pois isso seria profanar o Ingmar. 
Gif do Pessegadoro.
" Quando você era pequeno, você acreditava no Papai-Noel, agora, você acredita em Deus. " 
Minha listinha de filmes para assistir:
  • Solaris
  • Persona
  • Garota Exemplar
  • O Sacrifício ( do Tarkovski).
  • Lolita ( Stanley Kubrick).
  • Cidadão Keine.
  • Cantando na Chuva.
  • Metrópolis.
  • Nosferatu ( da época do expressionismo alemão. 1922)
Onde eu assisti o filme: Toca dos Cinéfilos .



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