segunda-feira, 15 de junho de 2015

Clarice Lispector


  Apesar de estar numa fase em que estou empacada ( tudo parou, o projeto, a parede, a leitura, os estudos, vivo pra comer nesses últimos dias), li um conto da Clarice Lispector. Já tinha feito várias tentativas de tentar ler um livro dela - inclusive dias atrás, O Lustre -, porém, acabava sempre desistindo. Clarice é densa demais, é complicada demais. É muita complicação para uma pessoa que já o é, como eu. Mas, então, xeretando nos livros antigos na casa da minha vó, achei um livrinho de contos brasileiros contemporâneos e, entre eles, tinha a brasileira nascina na Ucrânia. O conto que tem ali é " Feliz Aniversário". Parece uma coisa animada? Não é. É complicado, como Clarice toda o é.
 Retrata o aniversário de uma mulher de 89 anos e sua família. Todos dali saíram de dentro dela, todos ali se esforçam numa falsidade persistente, enquanto a velha fica sentada na mesa, a festa inteira. E, uma parte, ela começa a odiar todas as pessoas ao  seu redor. Odeia suas fraquezas, odeia dizer que aquelas pessoa imprestáveis, que nada fazem, que, como ela diz, não conseguem nem controlar uma empregada, tenham saído de dentro dela. Como é possível, aquele busto forte, ela, com seus 89 anos, ver sua família acabada naquelas pessoas desprezíveis? Vou copiar minha parte preferida, pois apenas Clarice pode explicar-se a si mesma:

 " Oh o desprezo pela vida que falhava. Como?! como tendo sido tão forte pudera dar à luz aqueles seres opacos, com braços moles e rostos ansiosos? Ela, a forte, que casara em hora e tempo devidos com um bom homem a quem, obediente e independente, ela respeitara. O tronco fora bom. Mas dera aqueles azedos e infelizes frutos, sem capacidade sequer para uma boa alegria. Como pudera ela dar à luz aqueles seres risonhos, fracos, sem austeridade? O rancor roncava no seu peito vazio. Uns comunistas, era o que eram; uns comunistas. Olhou-os com sua cólera de velha. Pareciam ratos se acotovelando, a sua família. Incoercível, virou a cabeça e com força insuspeita cuspiu no chão. "

 É engraçado mas, nas suas histórias, Clarice não passa fatos, passa sentimentos, com seu jeito bordado e estético de escrever. Mas acho seus romances muito cansativos, ao menos, eu não consigo ler, mas seus contos... você, após ler Clarice Lispector, sempre fica com a sensação de que não conseguiu entender toda ela, que, como um bom cult, você não pegou toda a essência da obra, que deixou palavras escaparem de seu compreendimento. É frustante, mas dá vontade de ler e reler, e reler e reler,  esmiuçando palavra por palavra, como querendo entrar dentro dessa mente geniosa. 

 " Os meninos, embora crescidos - provavelmente já além dos cinquenta anos, que sei eu! - os meninos ainda conservavam os traços bonitinhos. Mas que mulheres haviam escolhido! E que mulheres os netos - ainda mais fracos e mais azedos - haviam escolhido. Todas vaidosas e de pernas finas, com aqueles colares falsificados de mulher que na hora não aguenta a mão, aquelas mulherezinhas que casavam mal os filhos, que não sabiam pôr uma criada em seu lugar, e todas elas com as orelhas cheias de brincos - nenhum, nenhum de ouro! A raiva a sufocava. "

 Clarice, nos seus textos, mexe com o existencialismo. Ela parece como uma confusão de frases, que com caneta, saem. Ler um texto seu é como olhar dentro da mente de uma pessoa.  

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