domingo, 14 de junho de 2015

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Diga-lhe uma coisa  que a defina. Uma. Um pequeno adjetivo. Uma pequena palavra. Nenhuma. É impossível. É uma grande, incerta, confusão. Não se conhece. Tenta, inutilmente. Impulsiva. Mas percebe que não o é em alguns momentos. O que é o depender desses momentos? Também não o sabe. Desiste. Percebe que é não se conhecendo que o faz. Gosta disso. Quando não se define, é mais si mesma. Complicado? Nem um pouco. Não consegue dizer quem é e, assim, pode ser quem quiser, sem precisar seguir quem acha que é. Assim, é levada pelos instintos que tem, e não pelos pensamentos. Assim, é mais livre, livre de si mesma, livre de sua mente, livre de seus limites. Adora não saber quem é, adora a reverencia com que para quando tenta se definir. É um sentimento, consistente que, em si, já diz tudo. É maior do que si mesma. Sua alma transborda por seus poros, escorrega pela sua pele. Alguns se atraem por isso. Por essa alma grande. Outros, fogem. Tem medo de quem é, tem medo da inveja que sentem, dessa pessoa que vive por si mesma. 
 Tem vezes que para. Simplesmente para, senta-se ao seu canto e pensa. É um cansaço. Um cansaço que não vem do físico, que não vai passar quando dormir. É um cansaço simplesmente. Deixou, pouco a pouco, crescer algo dentro de si. E gostou do que viu. Abraçou, enfiou os dedos por entre os pelos de seu lobo interior, e ali ficou. Em seus braços. Estão amarrados. As vezes, ama a superficialidade dos outros, seu pensar fácil. Em outras, os despreza pelos mesmos motivos. Por sua mesquinhez, por sua cultura parca, pela sua falta de elegancia. Nessas situações, deseja apenas esconder-se às costas de seu lobo, e eles se juntam, em um só. Mal e mal se juntam e, nessas momentos, sua alma esbanja, escorre de sua pele, prega-se ao chão, vai aos outros, mostra-se no ar por choro, por grito, por palavras de baixo calão. 
Em outros momentos, porém, a raiva é contra seu lobo, contra si mesma. Esses são os momentos insuportáveis. Em uma briga com seu lobo interno, despedaça-se, arranca seus órgãos, os dileraça, até que virem pó e, durante todo esse tempo, é queimada, e a dor psíquica vira quase física, queimando-a. 
 Diz o que pensa, e isso assusta os outros. Não concorda? Diz, fala, usa argumentos, acaba com o outro em sua mediocricidade. E isso assusta. Assusta e assusta, e as reações a esse medo as vezes são positivas, as vezes negativas. Mas são 8 ou 80. Ou gera ódio ou amor. Sem meios termos.

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