terça-feira, 30 de junho de 2015

Ninfomaníaca


  Eu sei que, por estar passando por uma séria... quebra de intelecto? Como é o nome mesmo? Bloqueio criativo, que me impede de escrever/dançar/conversar/fazer qualquer coisa que envolva criar e originalidade em uma frase só, essa resenha com certeza não vai ficar no nível que o filme Ninfomaníaca merece. É um filme menosprezado, eu sei. Mas simplesmente porque as pessoas não conseguem lidar com sexo na arte, ou lidam de forma ruim, já falei sobre isso. " Nossa, mas se eu quiser ver isso, eu vejo pornografia." Não é bem assim. Ninfomaníaca tenta quebrar correntes, mostrando como o sexo realmente é, como mulheres também têm vida sexual, também sentem prazer  carnal, ou vontade. Mas é mais que apenas quebrar ideias conservadoras. 
  Ele mostra a busca desesperante de uma mulher por procurar se sentir viva, por sentir alguma coisa. O filme todo é uma incessante busca por viver. Por sentir, por prazer, por qualquer coisa que parece fazer com que a vida valha a pena, com que você possa chegar a um sentimento insuportável, mas que parece que nunca temos. E o sexo é uma ótima maneira de se sentir viva. É isso que a ninfomaníaca faz. E, então, isso se torna um vício. " Preencha todos os meus buracos " e " Eu não estou sentindo nada. " São as duas últimas frases de Ninfomaníaca V. 1. É engraçado, mas, por mais que tenha muitas cenas de sexo, você está tão impactado com as frases, que não há tempo para se excitar. Você não sente nenhum prazer com as cenas. O sexo está presente, mas de um jeito genial, ele não é o principal, não rouba o sentido, é apenas parte para explicá-lo. 
 Eu li algo que dizia que Joe - a protagonista - usa pênis para tentar preenche-la, mas cada um a encontra vazia, ela é, em si, vazia, e tenta enfiá-los, oito, dez vezes por dia, para tentar ter alguma coisa dentro de si. Além disso, é tudo uma mistura com cultura. " Uma obra de Bach é uma metáfora de três de seus amantes,  uma história de Edgar Allan Poe ilustra a morte de seu pai, a fórmula de Fibonnaci nas oito estocadas que lhe tiraram a virgindade. "
" As qualidades humanas podem ser expressas em uma palavra: hipocrisia. " 

 Há, finalmente, dois personagens principais, o velho, que escuta sua história, e ela, que conta. Achei isso uma interessante metáfora: o velho representa toda a sabedoria do mundo, mas também representa o conservadorismo. Ele apenas fica quieto, enquanto ela jorra sobre ele um novo mundo, um novo olhar sobre as coisas que ele já sabe e é  finalmente  obrigado a aceitar, e o faz, dando uma piedade que a ninfomaníaca não quer. Ele a achou num beco escuro, sozinha e machucada, e ela se odeia, por se achar uma má pessoa, e decide contar sua história como uma forma de dissuadí-lo a acreditar nisso também. Mas não é o que ele faz, ele esbanja piedade. Tem uma frase interessante, quando os dois perguntam um para o outro se são religiosos. Ela fala que não, e então ele lhe pergunta: " Então porque decidiu pegar apenas uma coisa da religião e levá-la consigo, isso sendo o pecado? ". O filme inteiro, em si, é todo frases de impacto. 
 Eu ouvi reclamações sobre " Joe não é uma ninfomaníaca, é uma sociopata sem sentimentos e bláh bláh. " Tem razão, Joe não é uma ninfomaníaca, é uma mulher normal, que simplesmente, como cada uma de nós, se sente vazia, e tenta preencher isso com alguma coisa. No caso dela, ela tenta se preencher com pênis. Outros tentam com filmes, com música, com igrejas e padres. Com bebidas, com drogas, cigarros, festas. Cada um tenta preencher seu vazio de alguma forma. Tem outra frase dela: " Talvez a única diferença entre mim e outras pessoas, é que eu sempre exigi mais do pôr do sol, mais cores espetaculares quando o sol atinge o horizonte, talvez esse seja meu único pecado. "

 Mas, se você quer ler um texto prestável sobre o filme, sugiro este.
 Aliás, falando disso, lembrei dessa música aqui, da Pitty, Boca Aberta.

  "Afinal, todos estão em gaiolas, esperando a permissão para morrerem. " 







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