segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Anna Kariênina


Com certeza, a maioria das pessoas já ouviu falar em um ator chamado Tolstói. Aquele russo com problemas mentais que escreveu Guerra e Paz. Livro que nunca li, apenas para se falar. Mas já tinha tido uma tentativa de ler outro livro dele, que eu havia pego da biblioteca. Anna Kariênina, mais precisamente, foi no começo de 2014, aí por março, abril. Não consegui, acabei achando o livro enfadonho, demorei vinte dias para ler 100 páginas. Mas, nessa semana, acabei pegando novamente o calhamaço de 801 páginas, com aquela edição linda perfeita, em capa dura, da Cosacnaify, uma editora que eu nunca tinha ouvido falar antes, mas cuja edição desse livro é simplesmente perfeita. 
 Mas, falando em si sobre o livro, sobre o conteúdo. Se passa na Rússia, em 1800 e bolinhas. Os dois personagens principais são Liévin e Anna - embora eles só se encontrem uma vez no livro inteiro. Liévin é um homem do campo - um sofrido, por assim dizer. No começo, ele tem uma paixão platônica típica por uma garota de infância. Passa por toda aquela coisa de se achar ruim para ela, de a colocar como Deus. Enfim, é um homem amargurado com a sociedade - com um pouquinho de descrença, poderemos dizer. Não gosta de Moscou, embora tenha se mudado para o interior para fugir de seu amor por Kitty - a fofa e inocente Kitty. E...ah, Anna Kariênina, como definir ela? Isso parece simplesmente impossível, mas podemos pegar uma pequena parte do livro em que Vronski - outro pretendente de Kitty - a vê, e tem espécie de amor por ela: 
  " ... com um único olhar para o aspecto dessa senhora, Vrónski classificou-a como pertencente à mais alta sociedade (...) sentiu necessidade de observá-la outra vez - não por ser muito bonita, nem por ter uma graça elegante e discreta, que se percebia em toda a sua pessoa, mas porque, na expressão do rosto gracioso, ao passar por ele, havia algo especialmente meigo e delicado. Quando olhou para trás, ela também virou a cabeça. Os olhos brilhantes e cinzentos, que pareciam escuros devido aos cílios espessos, pousaram com atenção e simpatia no rosto de Vrónski. (...) perceber uma vivacidade contida, que ardia em seu rosto e esvoaçava entre os olhos brilhantes e o sorriso quase imperceptível, que arqueava os lábios rosados. Parecia que o excesso de alguma coisa inundava seu ser e, a despeito da vontade dela, se expressava, ora no brilho do olhar, ora no sorriso. "
 Acho que foi uma das melhores definições, em toda a literatura que já entrei em contato, de uma mulher, de uma pessoa. Não achei mais Tolstói enfadonho, ao contrário, li aproximadamente 106 páginas em apenas três dias. Lembrava de algumas coisas, mas algo que antes me tinha passado despercebido me chamou especialmente a atenção agora. Nikolai Liévin, o irmão de Liévin, o da paixão platônica. Nikolai é um devasso. É um acabado, alguém para quem todos viraram a cara, um comunista - uns dos primeiros da Rússia que iria se transformar nisso. Mas que o é assim porque, nas palavras de seu irmão, para poder sentir menos desprezo de si mesmo. Nikolai, o homem que passou tempos sendo monge para segurar sua personalidade fogosa, para controlar todos seus pecados, toda sua violência. Que foi ridicularizado por todo esse tempo, e acabou desistindo e se enfiando na maior depravação humana possível. Que afundou até o último degrau da tristeza humana, que nada mais tem a valer em sua vida. Que me lembra, enfim, Schopenhauer. Não sei o quê em si ele me causou, talvez um misto de compaixão. Não, não foi bem isso. Ele foi o reflexo em si de uma pessoa triste - sendo descrita de forma a quase se tornar real, ao ponto de me perturbar. 
 Além de todos esses personagens - como ele consegue desenvolver tantos personagens de forma tão profunda? -, Anna Kariênina também é um retrato da sociedade russa da época. Uma sociedade  que se perdeu. Que está entre as manias inglesas e as manias francesas. E as suas próprias. Teve uma parte - que não vou copiar aqui para não se tornar longa em demasia, que define como era a vida antiga na aristocracia russa da época - com as mulheres sabendo literatura francesa, assim como essa língua e a inglesa, tocar piano, dançar, desenhar. Além disso tudo, a forma de se casar - fazer à moda inglesa, deixando os jovens escolherem, à francesa, com os pais escolhendo, ou à russa, com as típicas casamenteiras? É um livro histórico, também. Um livro que retrata a humanidade tão bem ao ponto de se tornar vulgar. 
 Estou, atualmente, na página 106 - como acho que já falei. Além desse livro, estou lendo Quincas Borba, do Machado de Assis e Orgulho e Preconceito, da Jane Austen. Pois bem, tenho bem mais coisa para falar sobre algumas coisas aleatórias, e estou me segurando para não despejar tudo nesse post. 

 " - No outro mundo? Oh, eu não gosto desse outro mundo! Não gosto - disse Nikolai, depois de fixar no rosto do irmão seus olhos ferozes e assustados. "


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