quarta-feira, 16 de setembro de 2015

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                                                 And my love is no good
                                                 Against the fortress that it made of you


 Estou cansada. Reclamo contra seu ombro. Há lágrimas nos meus olhos. Choro. Um choro sem sentido, caindo. Cansado. Reclamo contra seu ombro, e continuo resmungando, sabendo que me escuta sem me entender. Ou entende sem compreender. Nesse mesmo tempo, irei reclamar contra mais alguns ombros. Materiais ou não. Resmungarei contra mais alguns, derrubarei minhas lágrimas cansadas em mais peles distantes - e próximas. É, somos assim. Queimamos todos sem saber que lenha nos dá fogo. Choro. Grito comigo mesma por isso. Grito comigo mesma para que diga algo que faça sentido, que defina o porquê que choro. Estou cansada. Resmungo novamente, dessa vez contra um peito. Ninguém me entende. São palavras de amante abandonada, eles dizem. Dizem tanta coisa. Ao mesmo tempo, tento me convencer de que não me importo.
 - Como tudo caiu tão rápido? Como podem acusar tanto? Como podem guardar tanto ódio e vendê-lo a rua? Isso é apenas um jeito de preencher o tédio? Como? Por que me acusam tanto?! Parem de apontar os dedos para mim. - Meu choro redobra, meu corpo se contorce em caretas enquanto continuo a derramar as lágrimas. O dono dos ombros me envolve neles. São ombros macios, penso, embora o choro seja porque eles são muralhas. São pedras em cima da outra, em que não há um espaço em que eu possa me esgueirar e deixar minhas ideias. 
 - Estou tão cansada de ser acusada. - Termino meu falatório interminável para esses ombros, sabendo que nada do que disse foi entendido.  
  - O que fiz de tão errado?  - Pergunto a outros ombros, indago a eles com a voz chorosa de quem pede para que a pena seja menor: - Por que apontam tanto? Por quê?  - E as lágrimas encontram casa nas dobras dos ossos, mas minha mente continua presa, transbordando em mim, mas sem encontrar espaço entre as muralhas que são os ombros. E todos os donos deles.
 Nesses outros, falo coisas concretas: - Acusam. Vêm em telejornais o que acham errado e acusam. Então, decido encontrar meu lugar ali e acuso também. Mas então, os dedos se voltam para mim. Por quê? - Choro, novamente contra novos ombros. Tenho vontade de abrir um buraco no chão e ali me enfiar. No fim, minhas palavras não são palavras, imploro para que parem de me acusar no meio do choro, mas nem eu mesma sei o que quero dizer. 
 Então, posso ver.
 Olho os ombros que recebem minhas lágrimas.


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