terça-feira, 8 de setembro de 2015

Sobre umas histórias perdidas




Chupou o dedo que antes estava dentro dela, com um misto de gozo e esmalte recém-passado, esfregando a língua demoradamente pelos cantos da unha. Fechou os olhos e contemplou docemente o gosto querido. A puxou, aninhando-a contra os volumosos peitos, e enlaçando seu corpo com pernas e braços:
 - Melhorou, minha vadia? - E disse essa palavra levemente, acariciando suas letras como se fossem pedaço do paraíso. Pele contra pele. A sede de seu robe roçava pelos ombros desnudos. Correu uma longa unha pela pele da amada. A pequena passada pelas maças do rosto salientes, o contorno do queixo, a queda de um lábio para o outro..
 - Aceite, meu amor. Os humanos, em sua ânsia, nunca nos reconhecerão. - Abraçou-a mais forte. Apertou seu rosto contra seus seios, passou a mão pela coxa que estava em cima de si.
 - Agora, faça o favor de tirar essa nostalgia do rosto. - Aproximou os lábios de seu ouvido, sussurrando o resto, baforando as palavras contra sua pele: - e faça o favor de trepar comigo.
   A garota gemeu com as palavras, arrepiando-se e assim se aproveitando da onda de excitação sexual para abocanhar com os lábios o bico do seio rosa, duro, que despontava do tecido a centímetros da sua boca. Chupou até que doesse, agarrou com os dentes e levemente torceu. Pega desprevenida, a outra gritou de prazer a puxou pela bunda, afundando cinco dedos abertos na pele macia. Escorregou dois deles para entre as pernas dela, enfiando-os para dentro de sua vagina, já molhada, rodando-os por dentro.
  Com a outra mão, agarrou seus cabelos, os puxando de modo a domá-la, indo para cima enquanto mantinha a outra de quadro, ainda pregando seu ritmo, lento, forte e profundo, enquanto os gostosos sons de penetração preenchiam-lhe os ouvidos. Meteu o rosto no meio das pernas da outra, segurando-se em suas coxas, percorreu com a ponta da língua toda a extensão de sua vagina, voltando a atenção pra aquele seu ponto, para seu clitóris. Passou toda a língua ali, de cima para baixo, e percebeu a amante se contorcendo em suas mãos. Fez esse movimento novamente, mas parou ao meio do caminho, onde fez círculos com a língua, fortes, repetidas vezes. Desceu com a língua, a lambendo, enquanto o indicador pressionava o clitóris. Enfiou a ponta da língua dentro. A outra gemia, suspirava, contorcia-se, rebolava e seu lábio inferior quase sangrava de tanto mordê-lo, o que fez mais fortemente quando a outra a lambeu por dentro, ao mesmo tempo que levava dois dedos de um lado para o outro em seu ponto de pressão. Finalmente gritou e desfaleceu quando a amante enfiou um polegar em seu ânus, mas a amante apenas parou de chupá-la.
 Intensificou a velocidade dos dedos no clitóris, descrevendo círculos contínuos. O polegar entrava e saia, e sentia-se vulnerável, além de a ponto de estourar pela contínua provocação, mesmo após o orgasmo.
 Jessy agarrou-a pelos ombros e fê-la parar. Esta, por sua vez, pulou em seu colo, suspirou de cansaço e descansou o rosto contra o seu. Os corações batiam como se quisessem se livrar das costelas.
 - Me sinto tão vazia. Me sinto completa apenas com sexo e, as vezes, nem com ele.
 - É porque não sabes fazer sexo. Queres apenas dar. Não sabes receber.
 - Engraçado, não? Temos a junção do que todo ser humano quer: o intelecto e o físico. E mesmo assim não nos sentimos completas.
 - Está se perguntando que merda há de errado com os humanos, não é?
 - Sim.
 - Sexo é a coisa mais sincera que já achei. Não há subprodutos. O fazemos buscando prazer. Somente.
- É doentio.
- Só porque as pessoas a fizeram pensar que é.
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   Havias dias em que estava bem consigo mesma, nada era mais belo que o contorno de seu rosto, que o cachear de suas mechas, que a saliência de sua parca barriga, que o estupor de seu louco caráter. Outros, porém, em que se odiava profundamente, de seu âmago. E a frustração consigo mesma era insuportável, quebrava-se, na ânsia  da estética perfeita, ia perdendo-se, enquanto pouco a pouco tentava se explicar. Chegava, enfim, a conclusão de que nada era, senão uma estranha a si. Gritava a si mesma que deveria proteger-se, achar bonita sua feiura. O que fazia a rostos estranhos. Ah. Como a frustração era-lhe insuportável, como o erro era menor no outro. Como o flagelo era grande, numa doentia busca desconexa pela perfeição.  Ah, como é insuportável a frustração, até que, enfim, outro desespero agache-se ao lado e sussurre em seu ouvido. Por que tinham que tentar rotular? Que a deixassem como estava.
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Estávamos parados à frente do espelho. Sua mão, com os pequenos músculos reteados, percorria meus irregulares cachos castanhos, que caiam em meus ombros desnudos, enrolando as madeixas, enquanto a outra mão guiava meu braço, para que ele imitasse seus movimentos:
 - Mova-se calmamente e com força, como se cada ato seu estivesse provocando. - Ele sussurrava, perto demais de meu ouvido.
 - Não seja vulgar. Não mostre muito. Consegue muito bem seduzir com as pernas cobertas e esse decote nas costas. - Havia, mesmo ali, um toque sarcástico e ao mesmo tempo gentil em suas palavras.
 - Sente-se reta. Traga os ombros para trás. - Disse, enquanto puxava a pele de meus ombros e acompanhava a linha do osso.
 - Quando for sorrir, repuxe mais o canto direito dos lábios. - Seus dedos ilustravam as explicações, puxando minha bochecha.
 - E, quando as garotas derem o sinal, incline-se para a frente, reforce o batom, mova, calmamente, as mãos perto deles, enquanto conta algo... - Ele deixou a frase vagar por uns instantes no ar. - Interessante.
 Suas mãos apertavam minha cintura, enquanto eu nos analisava no reflexo a frente, minhas curvas distraidamente em destaque, o vestido branco com detalhes vermelhos caindo até o chão. O coque alto que, tentadoramente, ameaçava cair pelo longo pescoço, pálido, frágil.
  Como havia chegado ali? Perguntava-me novamente.
                               ***16 horas antes.
 Finalmente férias. Comemorava mentalmente, enquanto dirigia só com uma mão e devorava uma barra de chocolate com a outra, ao som de Chopin em meu retrô Impala. Não sabia exatamente o porquê de estar pegando a estrada às 2 da madrugada, sem avisar ninguém, indo a casa de alguém com quem eu não falava há anos.
 Pequeno impulso momentâneo, eu diria, quando chegasse lá. As mesmas palavras de nossa última briga. Estaria ele ainda vivo? Meus pensamentos foram cortados por um carro que passou e me deu sinal. Os tiras. Droga.
                    *** Agora
 - Que coisa interessante devo falar? - Minha voz rouca finalmente quebrou o silêncio compenetrante. Ele agarrou meu queixo e me virou, obrigando-me a olhar em seu rosto. Meus braços estavam fracos e a pequena raiva que faiscava em seus olhos piorou minha situação.
 - Está na hora. Não me decepcione.
 Saí do quarto. As garotas estavam me esperando. Todas com seus vestidos sexy's e rostos dominantes. Aquilo me animou. Eu conseguia. Mordi o canto do lábio, balancei a cabeça levemente, e fui.
  A festa era apenas algumas quadras de distância, em uma mansão vitoriana. Um som abafado vinha das portas fechadas e algumas pessoas com ternos pretos circundavam a fachada. A casa tinha três andares, com madeira talhada e grandes pedras. Um caminho com curvas levava a entrada, e eu caminhava ali, com os saltos tilintando.
                      *** 16 horas antes. 
  - Os tiras, os tiras, os tiras... - cantarolei, enquanto lembrava que tinha cerca de 0,08 % de álcool no sangue.  " Essa é minha realidade, Anns. É hora de voltar para ela. Sabe, pessoas com QI alto podem desenvolver doenças mentais mais facilmente. " Suas palavras ecoavam em minha mente, enquanto pisava no freio, cantando pneus.
 Houve um tempo em que cheguei a retórica conclusão: ou ele é louco de pedra, ou realmente sabe demais. Retórica porque logo esqueci daquilo. Como toda pessoa nos níveis de normalidade, acabei acostumando-me com a presença do enigma ali, sem levantar um dedo para resolvê-lo. Ignorando, apenas.
 Virei numa rua transversal e segui meu caminho.
                 *** Agora
Elena, a loira com o vestido preto e o rabo de cavalo balançando, me arrastou pela mão até uma longa mesa. Havia uma cadeira vazia, na qual me sentei. Em minha frente, um velho com barba colada à pele e profundos olhos azuis parecia ter exagerado em sua taça: seu riso envelhecido ecoava.
  - Sr. Stevenson. Frederick Stevenson. Ele é o seu homem. - Elena sussurrou em meu ouvido.
   No momento em que cruzei as pernas e peguei a taça, Frederick prestava atenção a uma das garotas:
  - Acho que a crise de 1929 foi o que acabou desencadeando a volta de Hitler. Ele estava preso, a economia alemã estava se revigorando..
 - Então, um fio, no caso os Estados Unidos, se rompe. A economia mundial entra em crise, ainda mais com o poderio estadunidense. Os alemães se apavoram novamente. A figura do simpático Hitler dos discursos parece a salvação.
   Em minhas mãos. Percebi, quando juntei olhar com Frederick. Ele gosta de garotas inteligentes. Anotei, enquanto a ousadia de ter interrompido a garota percorria em meus vasos sanguíneos. Percebi seus olhos me fitarem, me desnudando:
  - E então, em 1933, ele chega ao poder. - Completei.
 Estendi a mão direita, com a palma virada para baixo. Ele depositou um beijo cálido ali, sem desviar o olhar:
 - E por quê, garota esperta, Hitler conseguiu enganar a população culta alemã? Fora o drama mundial? - Percebi olhares intelectuais de toda a mesa recaírem em mim, enquanto um sorriso aflorava em meus lábios. Foi como uma doença mental: lento e devastador, arrumando marcas nos cantos dos lábios repuxados para o lado direito.
 - Pelas palavras. Um de seus aliados falou que o Hitler dos palcos, energético e otimista, era completamente diferente do monstro. Tanto que Hitler acalmou, ainda meses antes, a população com a certeza da paz, quase entrando em guerra. - Dei uma pequena pausa, olhando em volta e percebendo as palavras não-verbais de Elena. O sinal. Claro. Me inclinei para a frente, percorrendo com uma das mãos a linha de meu queixo, e com a outra, o pulso do paletó de Frederick:
 - Se os jovens se prendem a qualquer cantor ou ator que nunca viram, como não ficariam obcecados com o carismático Hitler, que podiam fitar?
                *** 3 horas depois
 A brisa da noite me pegou desprevenida quando saímos para a sacada do terceiro andar. As estrelas pareciam nos secar, sugando letalmente a pouca beleza artificial que nos envolvia. Meu cabelo, já solto, foi levado para trás, enquanto um manto de seda vermelha e dedos enrugados se materializaram:
 - É irônico. - A voz seca e fria de Frederick, com seu toque rouco, vagou. - Você adverte as palavras de Hitler e faz o mesmo com meus pobres homens... e comigo mesmo.
 Um riso sarcástico e surdo aflorou em meus lábios. Andei passos à frente, tirando seu rosto do meu campo de visão: - Sabe que eu tive que fazer isso. - Me apoiei na beirada da madeira.
 - Sim. Rupe gosta de garotas para seu trabalho sujo. Deve ter adorado você.
 - Irônico. - Repeti sua palavras e seu tom, mas não completei.
 - O que é irônico?
 - Acusa-me de usar as palavras para encantá-los, mas as usa para me deixar perdida. Sabe que eu ainda não escolhi um lado, ou sei de algo relevante. - Se fazendo de vulnerável. Perigoso, Annie. Disse a mim mesma. Bem, Rupe deveria saber que esconder ou segurar impulsos não é meu forte.
 - Aliás... - Não consegui terminar minha frase.
 Meus músculos me deixaram.
Bultibrometo de escopolamina.
 Ele injetou em mim.
 Como um gravador, falei:
 - Escopolamina pura. Precisamente, deve ter injetado de 3 a 5 ml. Mais produziria uma overdose. Delírio, paralisia, torpor...
 E apaguei.
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Morreu cedo
Em desajeito
Em desalento
Sem alento;
Sem apoio,
...explicação
ou canção
Findou-se
E só
Pitou-se
Com falta de carga
Apoiou-se
Ao nada
... e morreu
cedo.
Cedo?
Não o alento. 


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