segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Desabafa-desabafa

Porque rebeldia com a sociedade tem tudo a ver com a Frances.
 Encosto o rosto na palma da mão, e o braço no apoio dentro do carro - tento carregar todo o peso das palavras chatas nas mãos, e elas acabam caindo. Caindo na expressão de desprezo que ultrapassa minha educação tão bem educada. Faço um pequeno bico com os lábios e me recomponho. " Sim, é claro, como ela pôde sair com um short daquele na rua?! A irmã da Ana ainda! " Concordo. Não por hipocrisia, mas porque não tenho forças para fazer outra coisa que não isso - concordar ou fingir que está dormindo, no fim, concordar acaba dando menos trabalho, e mantém as pessoas felizes em sua mediocridade.
 Agora, estou tentando manter uma conversa que dure mais de dez minutos. "Tenho prova de vestido hoje. Não vou conseguir dormir quando chegar meu baile de debutante! Imagine, vou precisar de calmante. Aliás, ainda não me decidi se os guardanapos serão lilás ou azuis." Digo que prefiro a cor lilás. Ela concorda e continua. Acabo que saio de perto.
  Agora, estou sentada em uma mesa de madeira. A pessoa a frente tenta me passar uma cantada em tom sarcástico, brincando, enquanto as duas ao lado mexem ao celular, passam pela tela com publicações chatas repetidas vezes, curtindo coisas que não as fazem ter sequer um pequeno sorriso. A cantada foi mais ou menos assim: " Gata, só vou parar de te amar quando encontrar a lágrima minha que caiu no oceano. " Sorrio e respondo: " Putz! Vou ter que dessalinizar ele inteiro, então. " Caímos em crises de risos. Me sinto bem. Finalmente alguém que sabe levar uma conversa. 
  Minutos depois, a obrigação que diz o que é melhor para mim e me tira dessa boa relação - da primeira pessoa que sabe fazer boas piadas sem cair na vida dos outros - para copiar exercícios. Reclamo, faço bico. Me colocam com outra pessoa. Puxo conversa. " Já viajou? "  Falou que sim. Para um lugar agora que nem lembro onde é. Repetiu a pergunta. Respondi. Ficou quieta. Perguntou o que faço nas férias. Disse que nada, que fico em casa. Se decepcionou, acho que esperava que eu fosse mais interessante - alguém que ao menos aparenta deveria ser. Faço mais algumas perguntas dessa espécie, triviais. Desisto. Mas a boa educação diz-me que é isso que tenho que fazer, e faço.
  Em outro momento, estou sentada, lendo. Tenho preguiça de andar até o grupo mais próximo e participar da conversa, mas as pessoas acham estranho que eu não faça isso - e acabo fazendo. Entro no mais próximo. Estão quietas, ou fazendo pequenos comentários sobre um retiro de igreja desinteressante. Entro em outra. Dois rostos por cima do outro falando sobre desfiles e unhas. Desisto. Volto ao livro.  E um último pensamento me revolve.
 " As pessoas são desinteressantes ou eu ? " 
  E mais outro:
 " Por que copiar esses exercícios é melhor do que ficar conversando com a primeira pessoa interessante que achei? " 
 Lembro sobre um pequeno seriado e como a personagem conseguia manter uma conversa interessante - com um pouco de pequena cultura e sarcasmo. Suspiro. Quando vejo, minutos depois, estou sobre um ombro. Feito de pedras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário