Era composta de pequenos sentimentos ao longo do dia, entre todos, alguns perduravam por mais tempo, mas todos acabavam fazendo uma troca, se combinando, criando outros, como se a mente fosse química pura. Naquele momento, estava com uma terrível carência, que ultimamente, era o sentimento que mais a perseguia. Sentia uma vontade que crescia em seu âmago de ser aconchegada em dois braços, de receber carinho, de dedos se mexendo em seu couro cabeludo, caindo por sobre seu rosto e passando pelo seu lábio. Ou apenas um ombro e um antebraço onde pudesse descansar um pouco - preparar sua passagem para outro sentimento esmagador. Não que não gostasse daquilo - em certo momentos, ou devo dizer emoções?, odiava profundamente. Queria sentir-se estável, queria ter os pés no chão por mais tempo, mas aquilo logo era substituído por alguma vontade e desejo físico ou mental, ou estado de espírito, e depois tudo virava raiva por ter se sentido traída por si mesma.
Enfim, voltando a carência. Era algo estritamente vulgar, que se encontra em post's de tumblr e instagram, que abriam um pequeno buraco dentro de si; que a faziam desejar algo a mais que não tinha no momento - e não havia previsão de ter. Mas isso era algo sempre frequente em todos os sentimentos: uma falta de algo. Os sentimentos em si não conseguiam preenchê-la, embora fosse um turbilhão deles. Nem mesmo os outros conseguiam preenchê-la. Algo faltava, mas toda vez que estava a ponto de dar um nome àquilo que faltava, a coisa virava abstrata e voava novamente para o fundo de sua mente, como um sonho que se quer lembrar, está ali, mas não se pode agarrar, nunca, só que diferente desse, não podia esquecer aquela sensação de faltar algo.
Queria ser completa sozinha. Queria poder esfregar no rosto dos outros que era autônoma. Não que não fosse. Era, em parte. Era justificado porque não se sentia mais completa quando estava envolvida intensamente em um dos seus muitos amores. Uma vontade de ter uma vida que nunca se viveu. Uma vontade de colocar no papel todas as aventuras e toda a liberdade que queria, todos seus pequenos desejos que se transformam num sonho; sonho abstrato, que é formado de todos os detalhes.
Então, se minha vida fosse desse jeito, como você a desejaria?
Eu queria morar no centro, ao lado de um café americano, com aqueles copos de filme, onde pudesse acordar cedo, com aquela arquitetura toda fofa e pomposa, lendo um livro e comendo um cupcake. Logo após disso, iria a faculdade, com pessoas interessantes e roupas boas. Voltaria ao meu pequeno apartamento decorado todo de forma indie, onde poderia andar de meias e ouvir uma boa música nos fones enquanto estou sentada naquelas banquetinhas grudadas à janela, enquanto lá fora está chovendo. E depois, ir com os amigos à praia, com aquele vento balançando os cabelos - hidratados - e as ondas do mar batendo em seu corpo de forma gostosa, enquanto o sol queima sua pele cheia de protetor solar. E dormir com o barulho gostoso do oceano. Trabalhar num pequeno lugar, distante de toda sua família, e de todos que te conhecem por mais de dois anos. Guardar dinheiro e não comprar o resto dos móveis de seu pequeno apartamento para viajar para Estocolmo, ou Berna, ou Praga, ou Paris. Ou qualquer lugar.
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