sexta-feira, 12 de agosto de 2016

#12 Projeto 642 coisas sobre as quais escrever

" o lo que podría haber sido, pero no es."
leia escutando Caroline

Curitiba, 12 de agosto de 2016

 Olá, meu amor.


 Consigo lembrar do seu cheiro somente fechando os olhos  e mentalizando. Uma mistura de hortelã com cigarro barato que subia ao meu nariz e me deixava em êxtase. Embora tenham se passado anos, tenho na memória cada linha que formava teu rosto e cada momento em que passamos juntos. Seu rosto quadrado que se fechava num maxilar que você costuma prender quando estava nervoso, batendo os dentes. Tenho saudades de enfiar o nariz no ponto de encontro do seu pescoço esguio com seus ombros. E morder tua pele que tinha um cheiro tão gostoso. Sinto falta das tuas mãos em volta de minha cintura e do jeito com que me puxava para si. Das tuas crises e das lágrimas caindo de seus olhos marejados enquanto eu te aninhava entre meus braços.

  O jeito que passávamos a noite inteira acordados, porque era o único horário em que podíamos ficar juntos, embora morássemos sobre o mesmo teto. Tínhamos vidas completamente distintas e horários que só se encontravam de madrugada. Mas o que mais dói quando vem a minha mente é o beijo que marquei em sua testa, entre as sobrancelhas pretas, o dia em que me deixou. Minhas lágrimas molharam seu rosto, mas você se virou e sem olhar para trás, fechou à porta atrás de si. 

  Lamento não ter ao menos tentado te segurar comigo - envolvendo-te entre minhas pernas e pretendo-te ao meu beijo - mas eu sabia que você tinha que ir. Também sabia que, apesar de um bom sexo e um beijo excitante, nada te prenderia ali, comigo. Você iria para onde bem queria. Era uma das características tuas que eu amava. Amava mais quando onde você queria ir era para dentro de mim, mas já que agora era para longe, o que eu poderia fazer? Deixar aquele beijo na sua testa e te libertar. Mas o que mais lamento, veja bem, é que você nunca tenha existido.

    Te criei dentro da minha mente, em meus devaneios. Procurava-te em meus pensamentos, em madrugas sozinhas debaixo de minhas cobertas, me esquentando pensando em ti. Criei a cor de teus olhos, as linhas de sua face e as de sua personalidade. Ao fim, você era outro, independente de mim, com seus atos longe do meu alcance e domínio. Você se foi. Se foi ao fim até para longe de meus pensamentos. Mas ainda lembro do seu cheiro. Seu cheiro de hortelã e cigarro. E essa memória me desperta todas as outras. Inclusive a lembrança de que eu te amava. 

 Adeus, talvez definitivo.
 Katherine Donna Tart.

Essa carta faz parte do projeto 642 coisas sobre as quais escrever (vejam esse blog, ela escreve muito bem). Mais especificadamente o número 11 - Escreva uma carta de amor para quem já se foi. É fictícia ( ou não, você decide ).

   

Um comentário:

  1. Amei a carta <3
    te achei lá no grupo do BEDA! Fico feliz que participe do 642 também ahahah tenho que acrescentar mais temas ;3 beijos

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